Ao analisar o livro “Como
Ordenar As Ideias”, já na introdução compreende-se perfeitamente como fazer tal
coisa, ‘Descartes ensina: “(...) conduzir por ordens os meus pensamentos,
começando pelos mais simples e mais fáceis de conhecer para subir pouco a pouco,
como por degraus (...)”’ (p.8). Os pensamentos misturam-se, é necessário antes
de qualquer início planejar de uma forma geral, como será o começo, o meio, e o
fim para que exista um crescimento contínuo em todo o desenvolvimento do seu
trabalho, por isso o planejamento é tão importante, sem ele, existe facilidade
de se perder, não focando em nada e fazer um trabalho sem fundamentos e
objetivos.
Como início de qualquer trabalho tem-se a introdução. “A
introdução é o espaço onde se anuncia, se coloca, se promete, se desperta...
Introduzir é convidar” (p.11). Esta é a parte principal, porque é através dela
que chama-se a atenção, introduzindo o tema a ser desenvolvido, despertando o
interesse e gerando uma expectativa no leitor ou ouvinte. Mas para isso antes
deve haver uma reflexão acerca do que vai repassar para não cometer o erro de
no desenvolvimento não falar naquilo que foi prometido.
Para isso, como foi frisado antes é preciso selecionar as
ideias, ‘afirma Ducassé. “Antes de escrever, aprenda a pensar”, já dizia
Boileau’ (p.12). Não é aconselhável traçar um plano definitivo, porque a medida
em que se escreve vão surgindo novas ideias, tornando o plano ainda um rascunho
que poderá passar por uma modificação, é mais viável pensar antes de escrever,
assim fica mais fácil separar o que interessa e o que não é interessante, o que
enriquece o tema e o que empobrece.
No momento de fazer a introdução é preciso antes saber
qual é a função dessa. “É preciso facilitar a entrada, a intercomunicação,
elucidando o que se vai dizer, sem subterfúgios” (p.13). Como antes aqui foi
mencionado, a introdução é uma das partes principais de qualquer trabalho, a
essa cabe a função de levar o leitor ou ouvinte até chegar ao desenvolvimento e
então a conclusão. Ela tem a função de abrir esse caminho dando coordenadas ao
receptor para que esse consiga enxergar a ideia central que é onde ele vai
chegar, sem encontrar dificuldades.
Algumas perguntas podem ser úteis ao começar uma
introdução; “É possível iniciar sem definir o assunto? Sem situá-lo no
contexto? Sem despertar a atenção? Sem indicar os pontos principais? ” (p.16),
ou seja, para uma boa apresentação faz-se necessário anunciar o tema,
contextualizá-lo, despertar o interesse do receptor e mostrar as ideias
principais; quando estiver respondido a essas perguntas, terá nas mãos os
elementos básicos para uma excelente introdução.
Depois de ter pensado, ordenado e escrito suas ideias
começa-se a redigir de fato a introdução, “Conseguir comunicar a exposição e
qual o caminho que seguirá o plano é o mais importante” (p.19), na introdução
expõe-se de maneira clara e objetiva o assunto a ser discutido e o caminho que
levará ao plano antes feito e esquematizado, tudo de forma motivadora e
cativante.
Terminada a introdução, como podemos ver no capítulo 3
passa-se ao desenvolvimento por partes, “Para compreender é preciso explicar, e
só se explica realmente, decompondo” (p.25). Assim, para chegar a uma
compreensão mais precisa é necessário decompor o tema, ou melhor, destrinchar todo
o trabalho organizado, dizer cada coisa de uma vez e cada qual em seu lugar,
assim fica mais fácil a explicação e consequentemente o entendimento. Decompor
o tema é nada mais que seguir passo a passo explicando detalhadamente cada
ideia exposta facilitando a compreensão do receptor.
Após a decomposição entra-se na divisão do assunto; “O
corpo do assunto pode conter duas partes, no mínimo, ou três, no máximo”
(p.28). Quanto a essa divisão, fica provado que a divisão em três partes é mais
complexa, pois ao sair da introdução até chegar à conclusão há um caminho maior
a ser seguido, sem esquecer que as ideias precisam estar interligadas, por isso
a esse tipo de divisão são reservadas as grandes obras que exigem um pouco mais
de tempo. Em contrapartida a divisão em duas partes é reservada a trabalhos
mais simples e menores, tornando-se mais fácil utilizar o método de duas ideias
podendo a segunda se opor a primeira, mas não é de qualquer maneira, as ideias
principais devem estar bem claras e definidas para poder quantificar as partes
do assunto.
Apesar de parecer simples dividir as partes de um
trabalho, existem vários erros que podem comprometê-lo. “O comodismo e a
vulgaridade levam a apontar os principais tipos de planos que devem ser
evitados” (p.32), segundo Mazeaud, há algumas recomendações quanto a isso: Não
é aconselhável fazer referências particulares, isso faz o trabalho desequilibrar;
“Colocar na primeira parte as vantagens e, na segunda, as desvantagens é por
demais vulgar(...)” (p.33), além de não mostrar esforço ainda causa dúvidas; muito
cuidado com as comparações é necessário refletir sobre as ideias gerais; um pouco
parecida com a anterior, as causas e consequências necessitam de atenção, na
primeira parte coloca-se as causas e na segunda as consequências , não as duas
coisas ao mesmo tempo. Enfim, existem vários equívocos que devem ser evitados
para que o trabalho permaneça num nível equilibrado.
A divisão do plano é algo muito
ampla, as hipóteses quanto ao que precisa ser evitado são muitas, é necessário
ficar atento. “Há muito que evitar na divisão” (p.36). Como antes aqui foi
mencionado não é difícil, mas exige esforço, não ir pelo plano fácil, e sim
tentar criar um original, ou seja, o seu plano, mesmo que isso seja uma tarefa
reflexiva e as vezes árdua, no final ganhará por ser o original não a cópia de
alguém. A divisão não se trata apenas de quantificar as partes, mas ter um
plano de tudo, retirando o desnecessário e observando minuciosamente cada
detalhe. Os títulos fazem parte desses detalhes, todas as divisões e
subdivisões precisam ser tituladas e os mais importantes requer caracteres
diferentes, podendo ser em negrito ou itálico.
As partes de um trabalho não são
partes isoladas, precisam de uma contextualização, por isso sempre reservar
palavras-chaves que possa ligar uma parte à outra é essencial, porque texto sem
contexto não faz sentido, logo é necessário entender todo o plano a ser
seguido, a ideia principal, para não fugir do tema ou mesmo perder o
equilíbrio, sem esse torna-se complicado o entendimento.
Esta tal divisão agora unida e contextualizada
encontra o equilíbrio. “O equilíbrio só é encontrado quando a previsão estiver
suficientemente estudada, revista, supressa alguma coisa, acrescentadas outras
tantas” (p.38). Ler e reler o trabalho é uma forma de conseguir isso, porque a
medida que se vai lendo, observa-se sempre algo que necessita de alguns
ajustes, ou mesmo descartar informações que serviria somente para entreter o
leitor ou ouvinte.
Ao terminar o desenvolvimento das
partes e por fim ter encontrado o equilíbrio, passa-se a conclusão, ou seja, ao
resumo de todo o seu trabalho. “Concluir é responder” (p.43). Assim como no
início do trabalho faz-se um convite despertando a curiosidade e entusiasmando
o receptor, na conclusão dá-se uma resposta a tudo que o tema retratou, de uma
maneira marcante e breve dando ênfase ao tema central. “Por que concluir não é
terminar, é alargar a ideia geral” (p.43). Esse é o momento de se envolver
ainda mais no trabalho e mostrar ao receptor possibilidades de ampliar o
conhecimento adquirido por ele até ali. Não é momento para novas ideias, mas
sim desenvolvê-las no público.
Neste último contato com o leitor é
necessário ser cauteloso, “O primeiro cuidado de quem conclui é dizer o
essencial” (p.44). Ou seja, o essencial se refere a ser breve e dizer somente o
necessário sem dá voltas e voltas, não tentar explicar detalhadamente, porque
essas explicações devem ser feitas no momento do desenvolvimento, agora é hora
de dá uma resposta ao que foi prometido na introdução.
Na verdade concluir é deixar marca,
é despertar perspectivas. “É na conclusão que se marca, impressionando,
ouvintes e leitores” (p.45). Não adianta começar o trabalho com uma
apresentação impecável e na hora de concluir não deixar boas impressões, dessa
forma apenas foi mostrada a ideia, porém esta não foi plantada, e então não
alcançará o resultado esperado. De um modo simplificado, um trabalho se resume
a uma introdução boa, um desenvolvimento ótimo, e uma conclusão excelente, assim
haverá um crescimento de um passo a outro sem desfalecer.
Ordenar as ideias não é tão simples
como muitos pensam, apesar das pessoas fazer isso mesmo sem saber, o desafio é
fazer de maneira correta e menos trabalhosa, não que será fácil, mas ir por
caminhos conhecidos e evitar outros meios que torna esse processo mais
demorado. E este livro “Como Ordenar As Ideias” ensina fazer isso de uma
maneira menos complicada, pois, andar por caminhos conhecidos é sempre mais
seguro.